terça-feira, 27 de julho de 2010

O Passageiro

Gustavo Cortez, o passageiro

Que a vida de quem anda de ônibus diariamente é sofrida, não há controvérsias. Principalmente no horário de "pique" (como diz a minha mãe).
Há quem fure fila na hora de entrar; que finge que está dormindo nos assentos preferenciais (tirando o direito dos outros); que ignora o uso do fone de ouvido; o tiozão que com "as asas" daquele jeito às 6:00 hs da manhã ou à tarde, depois de passar o dia inteiro batendo laje; gente que fecha a janela quando está um calor de matar, ou, que abre quando está chovendo. Enfim, quem anda de busão (como eu prefiro falar), sabe destes e dos outros problemas que ocorrem ao longo da viagem.

E como nem tudo é sofrimento, numa segunda-feira ("braba", para muitos), eu voltava para casa depois de não ter ouvido o Músico tocar. Sem que ele soubesse, me deu um bolo e ainda me proporcionou uma "bela" noite de pagode. Ainda bem que isso não acontece mais!.Agora sou avisada com antecedência.

No busão, entra um rapaz e pede licença para se sentar (coisa nem tão comum para um jovem). Era o Passageiro.
O motorista levou uma fechada de um veículo. O Passageiro logo manifestou seu machismo: "aposto que é mulher. Aposto!" Claro que comecei a defender minha classe. Não adiantou. Ele tinha mais argumentos do que eu.
Me fez saber seu nome: Gustavo. Nome bonito. Mas ele também é bonito, viu? 1,82 de altura. Sobra tamanho e falta idade! 17 anos, "mas já vou fazer 18 anos", como fez questão de ressaltar.

A viagem que geralmente dura uma eternidade, passou muito rápido. A boa conversa do Passageiro fez o tempo voar. Confesso que ele também me fez voar, ao me colocar "mais leve" alguns quilinhos, enquanto falávamos sobre padrões de beleza.
Achar um cara desses toda viagem seria legal. Encurtaria o tempo do percurso, embora quando alguém bacana nos faça companhia, dá vontade de seguir o resto do dia com a conversa. Mas chega a hora ruim de dizer tchau e a dúvida: Será que vou ver de novo?
No caso do Passageiro, eu já sabia que não era difícil revê-lo, já que moramos em bairros próximos.

Enquanto eu me preparava para descer, ele se despediu e disse "Vá com Deus!" E eu fui.
Deus estava mesmo comigo, porque chegando em casa, um maluco já ia correr atrás de mim, mas eu gritei e corri, antes que ele pudesse colocar as mãos em mim, e sabe-se lá, fazer o que quisesse.

Nunca me esqueci do Passageiro. Nunca! Outro dia, no busão lotado, o primeiro rosto que identifiquei foi o dele. A memória dele também não falhou. Pudemos conversar mais uma vez.
É engraçado perceber que nessa correria que é o dia-a-dia, a loucura toda que está nas viagens de ônibus, a gente consiga fazer amigos, transformar um passageiro "figurante" em "protagonista" de inúmeras histórias na vida real.
Especialmente para você, Passageiro, eu falo da alegria de ter te conhecido numa noite que não ouvi o Músico e que quase perdi a vida. Você foi a parte boa da história!

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