segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A canção proibida


Eu te escrevi e você me leu. Quando você me olhou, me enxergou por dentro e leu a mim também. Diante de ti eu sou palavra. Você, diante de mim, é melodia. Juntos, nós somos uma canção, mas que não deve ser tocada, a canção proibida. O nosso concerto não deve ser visto. Cabe a nós ser silêncio. Esse silêncio guardará nosso segredo.

Eu sou popular. Você erudito. No nosso encontro nos tornamos uma sinfonia. Você é o maestro e eu instrumentista. Com o mover das suas mãos, a batuta nos ares, você me conduz à nota mais aguda. Nenhum outro consegue regência tão eficaz.

Os concertos tiveram uma breve pausa e até pensei que nunca mais voltariam. A canção proibida ainda era sua fonte de inspiração. Eu não sabia. Somente pela lembrança da sua maestria consegui, sozinha,  subir alguns tons e fazer notas agudas. Seus ouvidos se agradariam em ouvi-las. E agora que terminou a pausa você retorna querendo retomar o concerto. Tivemos um ensaio. Eu tentando tocar outras canções e você insistindo na  que é ilegal. Clandestinidade.

Longe de ti eu sou solista. Leio outras partituras e tento encontrar uma parte tua. A canção proibida só é tocada sem alarde, atrás das cortinas. Dispensa plateia. Agora eu te escrevo para que você saiba que depois daquele ensaio eu vibrei por dentro como as cordas do meu instrumento. O reencontro foi a prova de que a musicalidade que há em nós e que nos mantém atados nunca para. É um jeito de fazer o show continuar.

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